Painel 1: Ambiente e Religião
A relação entre religião/espiritualidade e alterações ambientais permanece uma área pouco estudada do ponto de vista dos estudos sobre o ambiente – apesar das recentes chamadas de atenção para essa lacuna, e dos apelos à ação ambientalista por parte de líderes de instituições religiosas globais em confronto com a crescente crise ecológica global (e.g., Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco; The Islamic Declaration on Global Climate Change). Neste painel, propomos refletir sobre a forma como as religiões influenciam a relação entre humanos, não-humanos e ambiente. Convidamos estudos de caso que explorem diversos cruzamentos entre religião e alterações ambientais, tais como, entre outros assuntos possíveis, as dimensões religiosas/espirituais de movimentos ambientalistas, as consequências materiais para o ambiente de processos de transformação religiosa, e potenciais influências ambientais em processos locais de alteração religiosa.
Painel 2: Desastres Ambientais e Climáticos no Capitaloceno
A noção do Antropoceno refere-se a uma nova era geológica marcada por crescentes disrupções ambientais e climáticas de origem antropogénica. Esta noção extravasou das ciências geofísicas para as humanidades, ciências sociais, artes e media, desencadeando um vasto debate sobre os efeitos destrutivos da ordem económica mundial em sistemas ecológicos locais, regionais e planetários. No Capitaloceno, termo alternativo cunhado por Jason W. Moore para descrever a atual era de colapso climático e ambiental, a Natureza foi reduzida a um mero recurso económico, e esta redução abriu caminho para um modelo extrativista e crescimentista de desenvolvimento com consequências ambientais e climáticas devastadoras. Estes múltiplos desastres ambientais e climáticos, como notam Anthony Oliver-Smith e Susanna Hoffman, longe de serem fenómenos naturais, resultam de uma “cultura de desastres” específica, que deve ser compreendida como um processo social e político complexo, no qual fatores como desigualdade, governança e recursos disponíveis amplificam ou mitigam os seus impactos. Este painel propõe uma reflexão coletiva sobre o papel da antropologia em discussões globais sobre desastres ambientais e climáticos no Capitaloceno, mostrando que os impactos destes desastres são, em grande medida, uma consequência de processos sociais e políticos de desigualdade estrutural.
Painel 3: Ambiente e Saúde Pública
O vínculo entre a antropologia ambiental e a saúde pública é crucial para entender e lidar com a complexa ligação entre sociedades humanas e o meio ambiente. Em tempos de desafios e incertezas ambientais crescentes, é imperativo que a antropologia ambiental e a saúde pública trabalhem em conjunto para proteger o bem-estar das gerações presentes e futuras. Essa colaboração vai ao encontro do conceito de “Uma Só Saúde” (One Health) e é fundamental para fazer face a questões cada vez mais prementes de saúde ambiental, como as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e as desigualdades no acesso a um ambiente saudável. Ao analisar a interação entre pessoas, plantas, animais e os seus ambientes partilhados, a perspetiva dos antropólogos pode proporcionar contribuições significativas que promovam mais equidade, sustentabilidade e melhores políticas de saúde pública.
Painel 4: Ciência Engajada e Conflitos Ambientais
A proposta deste painel é reunir pesquisas e promover interlocuções na direção em que Ecologia e Política convergem, em pautas ambientais e investigação engajada, em contextos distintos e a partir de perspetivas diversas, mas que, ainda assim, apontam para conflitos (latentes ou manifestos) que estão em curso em espaços rurais e urbanos, florestas e áreas de conservação. Os participantes deste painel irão refletir sobre os impactos socioambientais avassaladores de forças políticas e económicas aliados a contestações que configuram forças em que sujeitos diversos – agricultores, movimentos climáticos, cidadãos e pesquisadores – encontram-se, com suas bagagens distintas e seus propósitos, frente a urgências que pressionam em favor de parcerias. Ao mesmo tempo, o painel ira discutir as barreiras e limitações de ordem epistemológica, política, geracional, social e institucional com as quais estes sujeitos defrontam-se. Assim, a partir da antropologia, da história ambiental e da ecologia política, este painel propõe reunir trajetórias e experiências de pesquisa em contextos diversos, incluindo Portugal, Brasil e Guiné-Bissau, propondo diálogos sobre mundos que acabam, transitam e emergem e sobre engajamentos e relacionalidades frente a conflitos ambientais e emergências climáticas.
Painel 5: Relações Internacionais e Ambiente
A proposta deste painel é reunir pesquisas e trabalhos de investigação em curso que procuram pensar como as relações internacionais podem enquadrar a temática ambiental no contexto do Antropoceno. Particular foco será dado à relação entre sociedades humanas e natureza, nomeadamente no que diz respeito ao papel do conceito de ‘multiespécies’ nesse contexto, e de como diferentes níveis de análise, do mais local ao global, podem ser integrados numa perspetiva mais ecológica das relações internacionais.